terça-feira, 3 de julho de 2012

Eu não devo ter cara de pessoa séria

Ia eu hoje no comboio regional, encantada da vida enquanto sublinhava (ou tentava sublinhar, que ninguém me mandou achar que os comboios são bons sítios para sublinhar o que quer que seja) um livro cheio de matéria interessante, quando vejo pelo canto do olho alguém a aproximar-se. Olhei e vi uma rapariga que imediatamente se dirigiu a mim: "Oi, djisscupa si tou txi atrapalhando... Máiz eu quiria sabê o qui tenho dji fazê pra ir pr'o Porto... Tenho dji mudá dji comboio?". Lá lhe expliquei que sim, que chegando a Aveiro tinha de mudar para o comboio urbano que, esse sim, ia para o Porto. Como sou uma moça solícita, ainda acrescentei que convinha ela sair depressa do comboio, porque o urbano não costuma esperar e às vezes os  passageiros têm apenas cerca de três minutos para ir de um comboio para o outro. E também lhe disse que esse comboio costuma estar estacionado à frente daquele em que seguíamos. A cachopa agradeceu, eu sorri e disse "de nada, ora essa" e fiquei intimamente muito contentinha por ter ajudado a reforçar a imagem que os estrangeiros têm de sermos um povo hospitaleiro e simpático.
Quando o comboio estava a chegar a Aveiro e começou a abrandar, todos os passageiros começaram a levantar os rabiosques para se irem embora excepto... As raparigas brasileiras. Ainda olhei para elas, como que a avisar... Nada. "Tudo bem", pensei eu. "Às tantas perguntaram ao revisor e ele disse-lhes que tinham tempo". Saí do comboio e lá estava o urbano para o Porto, prestes a arrancar e estacionado à frente do nosso, tal como lhes tinha dito. Procurei as raparigas com o olhar... Lá estavam elas, ATRÁS do comboio que nos tinha trazido, quando eu lhes tinha dito que ele ia estar À FRENTE. Resumindo e concluindo: devo ter cara de delinquente, mentirosa ou safadinha. Não há outra explicação para elas terem feito tudo exactamente ao contrário do que eu lhes disse. Ou então são só... Pronto, burrinhas, coitadinhas...

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