domingo, 13 de maio de 2012

Os efeitos benéficos da programação de Domingo à tarde

Toda a gente sabe em que consiste a programação de Domingo à tarde nos canais televisivos portugueses: filmes do tempo em que o Herman José ainda tinha piada ou até mais antigos que isso. Comediazinhas da treta com finais sempre iguais, geralmente sobre uma professora que consegue converter os alunos mauzões de uma escola do Bronx em anjinhos, ou sobre uma rapariga branca e rica que se apaixona por um rapaz negro e pobre. Geralmente conhecem-se porque dançam os dois hip-hop. E claro que os pais da rapariga não concordam que ela dance hip-hip, c'orror, ela devia era dançar ballet. Enfim, o costume.

Ora, eu tenho para mim que o Governo tem uma mãozinha nisto. Afinal de contas, o sol é um anti-depressivo do melhor que há. E nada chega aos calcanhares de uma tarde passada na esplanada, com um sundae de caramelo a acompanhar (sem sundae é bom na mesma e fica mais barato). Uma pessoa sai para passear e chega a casa mais bem disposta e sem tanta vontade de reclamar contra a crise, contra o primeiro-ministro e contra a vida em geral. Mas se a televisão passar filmes daqueles mesmo bons é claro que a malta, comodista como devem ser os bons portugueses, se deixa ficar em casa com um pijama velhote e uma meia a pedir pão orgulhosamente calçada, a olhar para o pequeno ecran a tarde inteira. E o Governo não quer a malta fechada em casa a reclamar da vida. Quer-nos é felizes e caladinhos, que chateamos menos. Para isso, precisamos de sair, conhecer gente, quem sabe encontrar o amor algures entre o parque de estacionamento do supermercado e a casa-de-banho pública... Conclusão: não podem passar bons programas televisivos no dia livre da maioria dos portugueses.

Note-se também que eu estou a desenvolver esta teoria directamente do meu sofá, a escassos metros da televisão, que passa neste momento um filme cujo nome desconheço, mas que tem no elenco a Michelle Pfeiffer com 15 anos a menos. E estou de pijama, só destoam as meias, que por acaso não estão a pedir pão mas até podiam estar. Quer isto dizer que a programação televisiva de Domingo à tarde também serve para estimular sadiamente as mentes criativas dos cidadãos (porque uma pessoa tem de se entreter com alguma coisa, não é verdade?). Eu estive para aqui a desenvolver esta teoria da treta, mas também me podia ter dado para engendrar o negócio da minha vida, uma cena absolutamente espectacular que me fizesse ganhar rios de dinheiro e ter pena do Belmiro de Azevedo. Era só ter seguido uma outra linha de pensamento... Mas o que interessa é estimular o cérebro! Hoje um mero texto, amanhã um plano infalível para enriquecer e ajudar a economia nacional! Viva a programação de Domingo à tarde!

2 comentários:

  1. O povo mais estúpido é um povo mais manso.

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  2. S*, sem dúvida... E ainda por cima os portugueses já são mansos por natureza...

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