Voltei a fazer vapores.
E veio-me à memória o velho fogão da casa da minha infância, onde a minha mãe punha água a aquecer das muitas vezes que o meu nariz teimava em tapar. E eu subia para um banco e lá ficava, quieta e infeliz, a levar com todo aquele calor húmido na cara. Passados poucos minutos já me estava a debater e a dizer que não queria, numa batalha apenas comparável às birras que fazia quando me obrigavam a comer sopa de agrião. E a minha mãe, sempre paciente, colocava-me uma manta sobre costas, punha-me o braço à volta dos ombros e dizia "Isto faz tão bem que até vou ficar aqui contigo a fazer também, vês?". Eu lá ficava, vencida mas não convencida, até ao momento em que decidia "não faço mais". E ela negociava, com a doçura que só as mães têm: "só mais dez respirações, está bem? Vá, uma... Duas..."
Hoje, de nariz tapado há mais de uma semana, fiz por esquecer o meu ódio de estimação pelos vapores e decidi viajar até ao passado. Desta vez fui eu que pus a água a aquecer. Desta vez não precisei de banco para chegar ao fogão (o fogão é que está a precisar de um banco bem alto para chegar a mim). Desta vez a minha mãe não estava cá em casa para me pôr a manta sobre as costas, mas aposto que poria na mesma, se estivesse. E certamente que me acompanharia na demanda, para que eu não tivesse de enfrentar o sacrifício sozinha. Mas aquela sensação tão boa de reconquistar a liberdade para respirar é a mesma.
E assim é o encanto das pequenas coisas. Vou agora dormir, de nariz destapado e coração quentinho. Os malditos vapores, afinal, até deixaram muito boas recordações...
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